A capela era magnificamente ornamentada e provida de boas imagens e alfaias; as paredes eram revestidas de bons azulejos, ainda parcialmente observáveis por ocasião do início dos trabalhos de requalificação referidos.  Aí funcionou a Ordem Terceira  até 1743, data em que foi inaugurada a actual capela de Nossa Senhora da Conceição,  segunda sede da Ordem Terceira  até à sua transferência para o Colégio e Igreja do Carmo, em 1837. É que a falta de sacristia, de sala de despacho e mais oficinas conduziu ao pedido da transferência da Ordem Terceira para a capela de S. Pascoal Bailão, junto à entrada do templo conventual e presentemente entaipada. Satisfeito o pedido por carta patente de  26 de setembro de 1739, do Ministro Provincial dos Menores Observantes da Província de Portugal,  foi possível  a construção da nova capela, mediante a ampliação da referida  capela de S. Pascoal. Foi lançada a pedra fundamental em 9 de Março de 1740 e benzida a capela em 28 de Dezembro de 1743.

Por escritura celebrada a 26 de Abril de 1764, enfim, os Frades Menores concederam um lote de terreno junto da nova capela que constitui o actual Quintal de S. Francisco, na Calçada da Rainha Santa Isabel, o que tornou possível a construção da sacristia, da casa do despacho e de outras dependências.

Um lamentável conflito com os Frades Menores do Convento de S. Francisco, motivado por questões de interpretação de competências, conduziu em 1785 à saída voluntária dos Irmãos Terceiros e sua domiciliação sucessiva na já desaparecida Igreja  da Colegiada de S. Cristóvão e, a seguir,  na Sé Velha que, destituida da sua qualidade catedralícia, já fora sede da Misericórdia e igreja paroquial da Colegiada de S. Pedro. Só em 1816, sanado enfim aquele conflito com a intervenção do Papa Pio VI e o feliz congraçamento com os Frades Menores, regressou a VOT à sua Capela da Ponte com luzidas festividades que reuniram as duas comunidades.

Esteve a VOT na  Capela da Ponte até ao ano de 1837, data em que, havendo o Definitório da Ordem requerido ao vigário capitular da diocese de Coimbra a concessão da igreja de Nossa Senhora do Carmo, do extinto Colégio dos Carmelitas Calçados, para os actos de culto, foi deferida a concessão, tornada definitiva depois da promulgação da lei de 13 de Setembro de 1841. Não esqueceu, todavia, o templo em que ao longo de um século tinha decorrido a sua vida de piedade, não obstante a transferência de numerosos objectos de culto para a Igreja do Carmo:  sempre lho requereram  os actos religiosos prescritos pelos Estatutos e os sepulcros dos  Irmãos que ali repousam.

Por escrituras de 7 de Maio de 1843 e 17 de Janeiro de 1868, celebradas entre a Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra e a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, foi a capela da Ponte emprestada à Irmandade para aí se celebrarem as suas funções e actos religiosos, sem qualquer prejuízo dos   totais direitos da VOT sobre a sua propriedade. Nela também, ao longo de muitos anos, exerceram os párocos de Santa Clara cumulativamente alguns actos paroquiais, razão por que aí se conserva uma pia baptismal.

A capela da Ordem Terceira, da actual   invocação  de Nossa Senhora da Conceição,  cujo culto é mantido pela V.O.T   em cumprimento das suas disposições estatutárias,  mostra  pelo exterior a sua antiga ligação arquitectónica à vizinha igreja de S. Francisco,   sendo acessível por uma porta lateral aberta já em 1828.

O interior é dividido por três lances de abóbada, sendo ainda reconhecíveis o espaço e os limites da antiga capela de S. Pascoal. O pavimento denuncia a existência do antigo cemitério dos Irmãos Terceiros, utilizado certamente   até à legislação que interditou os sepultamentos nas igrejas.

O  retábulo da capela-mor, da transição do rococó, ostenta o emblema da Venerável Ordem Terceira e acolhe uma bela  imagem de Nossa Senhora da Conceição, do terceiro quartel do séc. XVII.

Merecem atenção especial os painéis de azulejos da nave (fabricação de Lisboa, 1.ª metade do séc. 18) e da sacristia (fabricação de Coimbra, 2.ª metade do mesmo século), alusivos a episódios da vida de S. Francisco de Assis. São encantadoras pelo anacronismo das indumentárias as cenas que compõem os painéis da sacristia.

No exterior da capela mor há um interessante registo de azulejos com a Senhora da Conceição.

Adelino Marques

FONTES:

ARQUIVO DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DA PENITÊNCIA DE S. FRANCISCO DE COIMBRA

Livro de Memórias da Nossa Venerável Ordem feito em 1774 (liv. A4, 1774-03-08 a 1880510).

Livro das mesas e lembranças da Venerável Ordem (liv. A7, 1785-10-14 a 1835-02-23).

TEXTOS  CONSULTADOS:

BARRICO, Joaquim Simões (1895). Noticia Historica da Veneravel Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra. pp. 20-72. Coimbra, Typographia de J. J. Reis Leitão.

MARQUES, Adelino (2016).  A primeira sede da Ordem Terceira de S. Francisco – Notas de uma visita à antiga igreja de S. Francisco da Ponte. Diário de Coimbra, 19/09/2016.

SANTOS, Diana Teresa Fanha da Graça Gonçalves dos (2013), Azulejaria de Fabrico Coimbrão (1699-1801). Artífices e Artistas. Cronologia. Iconografia. Tese de Doutoramento em História de Arte Portuguesa apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto: [Ed. Autor, policop.], 3 vols.

SILVA, Ana Margarida Dias da (2013). Breve história da fundação da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco de Coimbra.  Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Instrumentos de Descrição Documental 2. Lisboa, Universidade Católica Portuguesa.

SILVA, Ana Margarida Dias da (2016).  Beati mortui qui in Domino moriuntur: Atitudes perante a morte e locais de sepultura dos irmãos franciscanos seculares da cidade de Coimbra (1707-1785). Revista de História da Sociedade e da Cultura 16 – 2016, pp 219-242. Imprensa da Universidade de Coimbra.