Fui solicitado para dizer nesta Reunião de Fraternidade algumas palavras sobre a Casa Abrigo Padre Américo.
Fiquei muito feliz ao mesmo tempo que, pela oportunidade que me era dada, contente também por recordar, por viver de novo o nascer de uma obra de grande valia para a Cidade de Coimbra.
Decorria o ano de 1984; era o ano dedicado “aos sem casa”; estávamos em Fátima; a Família Franciscana encontrava-se reunida e deteve-se sobre o tema.
E se fosse possível dar abrigo, pelo País fora, a todas as pessoas naquelas condições, foi dito.
Entretanto as Conferências Vicentinas de Coimbra tinham em mente pensamento semelhante.
O nosso vice-ministro de então, o irmão António Joaquim Correia Carapinha que muitos de nós conhecemos e recordamos, participou na referida reunião em Fátima; cheio de entusiasmo, colocou o assunto em reunião de Conselho e todos os elementos ficaram tocados para algo se fazer: dotar Coimbra de uma casa que desse ajuda aos que se distanciavam, por inúmeras razões, dos bens de que então a maioria beneficiava.
Procurava-se junto da Câmara Municipal, por parte das referidas Conferências Vicentinas pela voz da Senhora D. Fernanda Cordeiro, obter um local onde pudessem ser implantadas instalações àquele fim dedicadas.
Deu-se um contacto entre os dois cristãos representantes da Venerável Ordem e das Conferências. O Conselho da nossa Fraternidade concluiu então que bem no centro da nossa Cidade existia já um local propício ao fim em vista: tratava-se do velho edifício do noviciado carmelita do Colégio do Carmo. Encontrava-se em adiantado estado de degradação. Consideremos que era um bairro social para famílias de parcos recursos, na sua quase totalidade.
Após a decisão tomada foram infindáveis as diligências que houve que fazer, mas valeu a pena porque iríamos ao encontro daqueles “desprotegidos, aqueles que não possuem um local digno para descansar nas noites quentes do Verão ou frias do Inverno”.
Lembro-me de um homem que dormia no apeadeiro do Parque da Cidade.
Com se diz atrás, o Conselho decidiu de modo unânime no sentido de se fazer parceiro; a Fraternidade, reunida em Assembleia Geral de 28 de Novembro de 1987, deu o seu aval para se avançar para os trabalhos e criar a valência.
Decorriam lentas as diligências porque alguns obstáculos surgiam; muitos contactos havia a fazer, como por exemplo para o alojamento dos residentes do Noviciado, ao todo 15 famílias ou pessoas sós – r/c e 1º. Andar: com a Câmara Municipal de Coimbra, o Centro Regional de Segurança Social, a Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, os serviços de águas, telefones e electricidade…
E assim, lembremos, a 27 de Julho de 1989 procedeu-se à abertura das propostas para aquilo que era uma grande obra oferecida à nossa Cidade. Foram sete os empreiteiros concorrentes. Bem me lembro. Foi neste belo salão que decorreu a cerimónia. Presentes estávamos: eu próprio, com os irmãos do Conselho Dr. Humberto Gonçalves Fialho e Maria Piedade Matos Esteves (ambos falecidos há já bastantes anos), respectivamente ministro, vice-ministro e vogal, por parte da nossa Ordem. O Centro Regional de Segurança Social de Coimbra estava representado neste acto pelo Engenheiro Macário Damas.
Das sete propostas apenas duas apresentaram propostas concretas para a execução da Obra.
A empreitada veio a ser entregue à Firma Lourenço, Simões & Reis por vinte e dois milhões dezanove mil cento e oitenta e seis escudos, valor que foi acrescido de IVA.
Esta importância, derivado a trabalhos a mais, atingiu o custo final de cerca de trinta milhões de escudos, para o que foi elaborado e assinado um novo protocolo, em 2 de Dezembro de 1992, no qual eram contempladas as quantias que cabiam a cada uma das partes interessadas neste projecto.
A partir daqui, podemos dizer, tínhamos o sonho tornado realidade:
“No princípio…”(Gn 1, 1).
Do sonho passou-se à realidade, em verdade!
Lá fomos caminhando, devagar mas seguramente, e deste modo, em 6 de Novembro de 1993, Sua Excelência o Secretário de Estado da Segurança Social Dr. José Luís Vieira de Castro procedeu à inauguração da CASA ABRIGO PADRE AMÉRICO; estiveram então presentes o representante de Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Bispo de Coimbra D. João Alves, Vigário Geral Monsenhor Dr. Leal Pedrosa, um representante do Senhor Governador Civil de Coimbra, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. Manuel Machado, o Presidente do Centro Regional de Segurança Social do Centro. Disse eu: “cumpre-me no desempenho do meu cargo nesta Casa dirigir a VV. Excelências breves palavras, o que faço com elevado gosto”, e “Quero começar por a todos saudar, muito à maneira de S. Francisco de Assis, fazendo votos de PAZ e BEM!”.
Em Junho de 1995 soubemos que o projecto para a recuperação do r/c do Noviciado estava já na posse do Dr. Henrique Fernandes, vereador da Câmara e grande amigo da nossa Ordem; era Governador Civil aquando da extinção destas instituições a nível nacional. É justo referir que também o Dr. Manuel Machado foi bom amigo na ocasião da obra.
Concluída a grande Obra, havia que realojar as pessoas/famílias deslocadas de suas residências. Para isso novas e trabalhosas diligências com as entidades que connosco colaboraram recebendo-as; mais as várias ligações.
Para terminar esta minha humilde exposição, revestida de emoção e AMOR porque é ao serviço da nossa Venerável Ordem, gostaria de referir mais três questões, que são:
Primeira – Anais resumidos do desenvolvimento da acção que permitiu ir do sonho à realidade de que muito humildemente nos orgulhamos, isto é, dispormos e proporcionarmos uma casa que é a CASA ABRIGO PADRE AMÉRICO que dá guarida aos menos afortunados, mais ou menos desinseridos da Sociedade a que por direito nela deviam estar e com todas as regalias – devia ser. Hoje esta casa tem mais valor ainda, quando é certo que mais de dois milhões de cidadãos estão no limiar da pobreza
Historiando, pois, citemos datas mais importantes: 1984 ano dos sem casa; 1988 assinatura do Protocolo de financiamento, pelo Dr. Queiroz Lima da Segurança Social, pelo Dr. Manuel Machado, da Câmara, D. Fernanda Almeida Santos Cordeiro das Conferências Vicentinas e António Correia Carapinha da Venerável Ordem Terceira e recepção do Projecto de execução da Obra; 1989 abertura das propostas dos concorrentes à Obra e recepção do Projecto de Execução da Obra; 1991, Setembro, espera-se o início das obras; 1992 fizemos 19 contactos com diversas entidades, desde a Segurança Social e Câmara Municipal até às Águas e Telefones passando pela Polícia, pelo empreiteiro, com o vizinho Esquadrão de Lanceiros, etc. Ainda em 1992 assinou-se novo Protocolo de financiamento. Neste mesmo ano iniciaram-se as obras. Em 1993 foi assinado um “Auto de Recepção Provisória da Obra”. Em Novembro de 1993, como atrás se diz, foi inaugurada a valência. A Ordem Terceira assumiu a direcção com as Conferências, com a criação de uma Comissão de Acompanhamento, dispondo a Ordem de voto de qualidade. Em Outubro de1994 foi constituída a Comissão de Gestão. Aprovado o Regulamento, constituiu-se o Quadro de Pessoal. Foi assinado o Acordo de Cooperação com a Segurança Social e um Protocolo com o Hospital Sobral Cid. Outros se seguiram ao longo destes anos.
Segunda – Porquê em sub-título, “A MENINA DOS NOSSOS OLHOS?”
Foi a expressão que eu achei muito interessante e adequada para se referir à Casa Abrigo. Foi dita diversas vezes pelo Senhor Presidente do Centro Regional de Segurança Social de Coimbra naqueles recuados tempos, que sempre usou de interesse e carinho para connosco;
Terceira – Com gosto, assim termino a minha intervenção nesta Reunião de Fraternidade do dia 25 de Junho de 2017 dizendo o Pai Nosso, na paráfrase de S. Francisco de Assis:
“Santíssimo PAI NOSSO, nosso Criador, nosso Redentor, nosso Salvador e Consolador! QUE ESTAIS NOS CÉUS: Nos anjos e nos Santos, iluminando-os, para que te conheçam, porque tu, Senhor, és luz; inflamando-os, para que Te amem, porque Tu és amor; habitando neles e enchendo-os, para que gozem a bem-aventurança, porque Tu, Senhor, és sumo bem, o bem eterno, donde procede todo o bem, e sem o qual não há bem algum. SANTIFICADO SEJA O TEU NOME: Que o conhecimento de Ti mais se clarifique em nós, para conhecermos qual a largueza dos Teus benefícios, a grandeza a grandeza das tuas promessas, a alteza de Tua majestade, e a profundeza dos teus juízos (Ef 3, 18). VENHA A NÓS O TEU REINO: De modo a reinares em nós pela graça, e a levares-nos a entrar no Teu Reino, onde a visão de Ti é clara, o amor por Ti é perfeito, ditosa a Tua companhia e gozaremos de ti para sempre. SEJA FEITA A TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU: Para Te amarmos de todo o coração (cf.Lc 10, 27), pensando sempre em Ti; sempre a Ti desejando com todo o nosso espírito; sempre a Ti dirigindo todas as nossas intenções, e em tudo procurando a Tua honra; e com todas as veras empregando todas as nossas forças e potências do corpo e da alma ao serviço do Teu amor e de nada mais. E para amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, atraindo todos, quanto possível, ao Teu amor, alegrando-nos dos bens dos outros como dos nossos, e compadecendo-nos dos seus males, e não fazendo a ninguém qualquer ofensa (cf. 2 Cor 6, 3). O PÃO NOSSO DE CADA DIA, o Teu dilecto Filho Nosso Senhor Jesus Cristo, NOS DÁ HOJE, para memória, e inteligência e reverência do amor que nos teve, e de quanto por nós disse, fez e suportou. E PERDOA-NOS AS NOSSAS OFENSAS: Por Tua inefável misericórdia, por virtude da Paixão do Teu amado Filho Nosso Senhor Jesus Cristo, e pelos méritos e intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e todos os santos. ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO: E o que não perdoamos plenamente, faz, Senhor, que plenamente perdoemos a fim de que, por Teu amor, amemos de verdade os inimigos e por eles a Ti devotamente intercedamos a ninguém pagando mal com mal (cf. I Tes 5, 15) e em Ti procuremos ser úteis em tudo. E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO: oculta ou manifesta súbita ou renitente. MAS LIVRA-NOS DO MAL: Passado, presente e futuro.
GLÓRIA AO PAI…
João Rodrigues Fernandes
(antigo Ministro da VOTSF)